A vida quotidiana no campo

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A vida quotidiana no campo

 

PORTUGAL NO SÉCULO XIX - A Vida Quotidiana  no Campo

 

 

 

Quem vivia no campo?

Dentro da população rural, distinguiam-se: - proprietários (burgueses e alguns nobres); - rendeiros (pagavam renda pela terra que cultivavam); - jornaleiros (vendiam a sua força de trabalho diário à jorna, e eram o grupo mais numeroso); - pastores e outros «criados de gado»; - pescadores e salineiros, no litoral.

 

A posse de uma parcela de terra dava direito a um «lugar» na sociedade rural e permitia a participação na vida política local. Com a libertação da terra, alguns rendeiros e até jornaleiros tornaram-se pequenos proprietários.

 

 Os grandes proprietários tinham aumentado os seus bens com a compra das terras das ordens religiosas. Estes proprietários eram: - burgueses endinheirados que, exercendo outras profissões e vivendo na cidade, as arrendavam; - nobres que, ao perderem o direito de receber os tributos feudais, viviam apenas das rendas das terras.

 

 No final do século XIX, cerca de 70% da população portuguesa ainda trabalhava na agricultura. A pecuária (criação de gado) continuava ligada às actividades agrícolas, constituindo uma fonte de rendimento complementar, bem como um recurso para auxiliar a actividade agrícola (estrume para as plantações e força animal para puxar os arados).

 

 

 

 

O Estadoda agricultura:

 A Modernização da agricultura:

Nos finais do século XIX e inícios do século XX, os problemas de escassez de alimentos em Portugal intensificam-se, levando à aplicação de uma série de descobertas científicas e tecnológicas: fertilizantes químicos e melhoramentos genéticos.

Estas descobertas possibilitaram o progressivo abandono das antigas práticas, levando a uma especialização dos agricultores tanto nas culturas como nas criações.
A modernização da agricultura no século XIX deu-se quando começaram a usar-se sementes selecionadas, adubos, alternância de culturas e a utilização da máquina a vapor nas semeadoras, nos espalhadores de adubos, em ceifeiras, em debulhadoras. Também surgiram novas alfaias agrícolas.

 

 

 Acabaram com o direito do Morgadio que era a passagem das terras para o filho mais velho.
Dividiram os terrenos baldios e entregaram-nos aos camponeses.

A vida quotidiana nos Campos

A vida no campo era dura e o trabalho do camponês estava sujeito a uma rotina muito ligada às estações do ano e às alterações do estado do tempo. A maior parte das propriedades eram pequenas e eram os membros da mesma família que as trabalhavam para retirar da terra o seu sustento - agricultura de subsistência.

 

 

 

Algumas actividades de um calendário agrícola

A Alimentação do povo

A castanha tinha um papel preponderante na alimentação do povo, assim como as hortaliças, a caça, alguns produtos de animais domésticos, juntamente com pão de trigo e centeio. Depois vieram o milho e mais tarde a batata, o arroz e o peixe seco (bacalhau e outros), o peixe de água doce desde há muito era utilizado uma vez que estava acessível nos rios e ribeiras. Gastava-se na alimentação o azeite e o vinho. O arroz doce, as rabanadas, as broas de mel, só nas festas e casamentos

Nos últimos tempos do século XIX a alimentação da maior parte do povo resumia-se ainda à broa (em geral de milho amarelo, moido nas muitas azenhas espalhadas ao longo dos rios e levadas), hortaliças (couves e nabos), batatas, feijão, arroz, sardinha, azeitonas e bacalhau (sobretudo na Quaresma).

 Só em dias de festa é que comiam carnes e tempêro de carne de porco. As sopas em geral continham pouco caldo, ou eram quase secas, eram postas sobre broa esfarelada e abundantemente regadas com azeite no prato.

 

Vestuário

 Os camponeses viviam com grandes dificuldades, e o pouco dinheiro que tinham servia apenas para comprar azeite, sardinhas, sal e sabão. Por isso, a roupa tinha de durar vários anos.

 

Os camponeses não usavam sapatos e andavam, quase sempre, descalços ou de tamancos. O vestuário variava conforme o clima e os trabalhos que se faziam. No litoral, com um clima mais ameno, os homens vestiam calças curtas ou arregaçadas e camisas ou camisolas de lã (no Inverno). No interior, com um clima mais rigoroso, todos usavam capas durante o Inverno.

 

 Divertimentos

 

Os homens da aldeia divertiam-se nas tabernas, que eram cada vez em maior número. Ali, jogavam às cartas e punham a conversa em dia.

 Em casa, ao serão, as mulheres fiavam, teciam e faziam renda, enquanto os homens consertavam os instrumentos de trabalho. Aos domingos, os homens entretinham-se com vários jogos, nos largos das aldeias.

Outros jogos, como o jogo do pau, serviam para «provar a masculinidade». Assim, os homens valorizavam-se perante os outros. Jogavam também à malha, subiam ao mastro e faziam o jogo das bilhas.

 

Em certas aldeias, as pessoas mais cultas, como o padre, o médico, o professor ou o juiz, organizavam serões. Nestas reuniões, liam e comentavam jornais e revistas da época. Como a maioria do povo não sabia ler, eram estas pessoas mais cultas da aldeia que liam e escreviam as cartas para os seus familiares, que tinham partido para o Brasil e para África.

 

As tradições populares

 

A música era uma das principais manifestações culturais das gentes do campo.Tocada e cantada, era também dançada com alegria nos arraiais*, (ligados a festas religiosas e às feiras), nas festas em honra dos santos padroeiros (de Maio a Novembro) e mesmo nas ruas das aldeias. Os trabalhos agrícolas eram também acompanhados por cantos. Cantava-se ao desafio ou à desgarrada nas ceifas, nas desfolhadas e nas vindimas.

 Os instrumentos mais utilizados eram:

- guitarra;
- viola;
- acordeão;
- harmónica;
- gaita-de-foles;
- ferrinhos;
- pandeiros.

As romarias eram os momentos mais intensos do sentimento religioso popular e estavam ligadas às colheitas e à cura de doenças. Eram uma mistura de religião cristã com cerimónias pagãs (não cristãs): o povo cumpria promessas, fazia oferendas, ouvia música nos coretos* e comia cabrito com vinho verde e limonada. Por vezes, chegava a haver pancadaria com golpes de varapau.

 A procissão, a bênção do gado e o grande arraial eram e são obrigatórios nesta festa. As cerimónias começam no «Dia da Santa», primeiro domingo depois do dia 22 de Maio. Os romeiros vêm de perto e de longe, com os seus rebanhos e manadas, para a tradicional «bênção do gado». Os pastores e seus animais dão três voltas em redor do cruzeiro que fica no Largo da Igreja. O padre e o auxiliar espalham água-benta, depois de terem recitado a bênção tradicional. O povo crê que todos ficam protegidos da doença da raiva. É o momento mais curioso da festa.