A vida quotidiana na cidade

 

A vida nas grandes cidades

Como tens vindo a estudar, a segunda metade do século XIX foi uma época de grandes e rápidas mudanças. O desenvolvimento da indústria e dos meios de transporte fez chegar às cidades muitas pessoas do campo. A cidade cresceu e modernizou-se. Lisboa e Porto foram as cidades que mais cresceram e onde as mudanças foram mais evidentes. Em Lisboa, a abertura da Avenida da Liberdade, no antigo Passeio Público, e a construção das Avenidas Novas, a partir da Rotunda do Marquês de Pombal, representaram o fim de uma época e o iniciar de outra.

Lisboa estava, agora, com os novos meios de comunicação, muito mais perto do resto da Europa. Todo o aristocrata* e burguês exigia que os seus filhos aprendessem línguas estrangeiras e mandava-os, muitas vezes, estudar para fora do país. A função da mulher continuava a ser de esposa e mãe. Cada vez mais, tinha a tarefa de ser a educadora na primeira infância dos filhos.

Actividades dos populares urbanos

As feiras e mercados, as lojas com os seus caixeiros, as tendas, cafés e tabernas ocupavam um grande número da mão-de-obra popular urbana. Vendedores e vendedeiras dos mais diversos artigos (hortaliça, carne e peixe, laranjas, pão e tremoços) percorriam a cidade.

Lavadeiras e aguadeiros cruzavam também as ruas das cidades. Havia ainda outros vendedores, como as floristas, regateiras* e varinas*, que animavam as cidades, desde as primeiras horas da manhã com os seus pregões. Por exemplo, as varinas com as suas rodilhas na cabeça para suportar o peso dos cestos com peixe fresco, apregoavam: «- Ó viva da costa!...».

Este carro era puxado por dois animais e podemos imaginá-lo carregado de lavadeiras, sentadas em cima das trouxas, a caminho de Lisboa. Faziam a viagem de oito em oito ou de quinze em quinze dias, conforme o número de peças, as necessidades das freguesas ou o estado do tempo. As lavadeiras pagavam ao carroceiro, à ida e à vinda.

Outras actividadesAs oficinas onde se produziam peças manualmente (o chamado fabrico artesanal, ou artesanato) continuavam, também, a ocupar muita gente.

Um dos ofícios tradicionais era o de funileiro* ou latoeiro. As peças mais vulgares eram: bilhas, medidas, baldes, bebedouros para os animais de criação, panelas, tachos e regadores. As peças eram, em regra, para uso doméstico ou para a agro- -pecuária.

Muitas das peças de artesanato eram feitas a partir de um molde, feito pelo próprio artesão.

Outras actividades artesanais muito vulgares eram:

Já é raro, actualmente, o fabrico manual de objectos de latoaria. Esta é uma actividade em vias de extinção, porque muitos destes objectos utilitários, antes feitos em metal, são hoje feitos em plástico (sendo, por isso, mais higiénicos) e produzidos em série, em fábricas, o que os torna mais baratos.

A alimentação

Os nobres e os burgueses da cidade tinham uma alimentação variada, composta por peixe, carne, caça, legumes, cereais, fruta e doces. Faziam quatro refeições por dia: o pequeno-almoço, o almoço, o lanche e o jantar. O jantar era servido cedo. Nesta época, com a maior facilidade das comunicações, chegaram a Portugal novos hábitos alimentares: bifes, puré, pudins e outras doçarias. Tornaram-se comuns os restaurantes e cafés, onde se podia tomar refeições ou, simplesmente, um refresco.

Os cafés do Porto, por exemplo, eram locais de encontro de intelectuais e políticos. Eram espaços muito confortáveis, luxuosamente mobilados e com salas onde as senhoras da sociedade podiam saborear bons sorvetes. Muitas vezes tinham também uma sala de jogos. Actualmente, alguns deles continuam a ser um «ponto de encontro» de artistas e intelectuais. dos cafés.

Entre as classes populares, a alimentação continuava a ser muito semelhante à dos camponeses. Pelas ruas, eram muitos os pobres que pediam esmola.

O vestuário

A moda, sobretudo a feminina, passou a ter um papel importante e servia, como em outras épocas, para distinguir os indivíduos ou grupos da alta sociedade. A informação e a publicidade das revistas e jornais permitiu que os gostos se tornassem semelhantes. Os burgueses mais ricos queriam ir contra as modas da antiga aristocracia, mas os «modelos» continuavam a vir de Paris.

No dia-a-dia, as senhoras burguesas usavam vestidos de cetim, com meias de algodão e botas de pele de vitela.

O vestuário do povo não seguia a moda; estava adaptado ao trabalho diário; mas, aos domingos, os populares usavam um traje diferente, feito com tecidos de melhor qualidade.

Retirado de HGP - 6.º Ano de Emília Maçarico, Helena de Chaby e Manuela Santos
Texto editora