As lutas entre liberais e absolutistas

 As lutas entre liberais e absolutistas

 

Um país dividido

As ideias liberais não agradavam a todos, na sociedade portuguesa. A nobreza e o clero eram os grupos sociais que mais tinham ficado a perder com a vitória da Revolução de 1820; se a lei era igual para todos, não era possível que estes grupos sociais continuassem a manter os seus privilégios.

As Cortes Constituintes tinham acabado com alguns direitos muito antigos da nobreza; tinham também acabado com a Inquisição, que tanto poder dava à Igreja. Por estes motivos, o clero e a nobreza estavam, de um modo geral, muito descontentes com a situação que se vivia em Portugal.

O sétimo Marquês de Fronteira, D. José Trazimundo Mascarenhas Barreto, deixou o seu nome ligado à causa liberal. Foi o autor das Memórias do Marquês de Fronteira e d?Alorna. Esta obra, ditada pelo próprio marquês no ano de 1861, abrange o período entre 1802 e 1853 e é considerada uma valiosa fonte para o estudo do século XIX em Portugal.

Mas havia excepções; algumas famílias da nobreza e membros do clero colocaram-se, desde a primeira hora, do lado dos ideais liberais, porque consideravam que a sociedade devia ser mais justa e igualitária.

Mesmo na família real havia divisões: a rainha e o Infante D. Miguel foram, desde o início, um símbolo* para todos aqueles que rejeitavam as ideias liberais e desejavam o regresso ao absolutismo. D. Miguel, segundo filho, na linha de sucessão de D. João VI, chefiou duas revoltas para acabar com o regime liberal: - Vilafrancada - em Maio de 1823, em Vila Franca de Xira, chefiou um corpo de tropas que pretendia proclamar o regresso ao absolutismo;

- Abrilada - em Abril de 1824, tentou levar o pai a abdicar*, para restaurar* o absolutismo. As tropas que chefiava cercaram o palácio da Bemposta, onde se encontrava D. João VI. O rei foi obrigado a mandar o filho para Viena de Áustria.

 

A sucessão ao trono

D. João VI morreu em 1826; nesta altura, a situação política era muito complicada, pois o país encontrava-se dividido entre dois grupos opostos: - liberais - a maioria da burguesia, do povo urbano e parte da nobreza defendiam a monarquia liberal; - absolutistas ou miguelistas - a maioria do clero, do povo rural e grande parte da nobreza desejavam o regresso ao absolutismo e estavam reunidos à volta do infante D. Miguel.

Com a morte do rei, sucedeu-lhe o seu filho mais velho, D. Pedro, que era imperador do Brasil; se subisse ao trono, os dois reinos voltariam a ficar unidos, o que não agradava a ninguém. D. Pedro abdicou do trono português a favor da filha, D. Maria da Glória, que tinha sete anos de idade. A regência do Reino ficou entregue à Infanta D. Isabel Maria, irmã de D. Pedro. D. Miguel, exilado em Viena de Áustria desde o fracasso da Abrilada, deveria regressar a Portugal, jurar a Carta Constitucional de 1826 e casar com a sobrinha, D. Maria da Glória, quando esta atingisse a maioridade.

D. Miguel pareceu aceitar todas as condições. Mas, em 1828, pouco tempo depois de voltar a Portugal, fez-se aclamar rei absoluto, dissolveu as cortes e iniciou um período de perseguições aos liberais; muitos partiram para o exílio*, outros foram presos e condenados à morte.

 

Luta pelo poder

Como sabes, a partir de 1828, D. Miguel passou a governar o país como rei absoluto. Nesse mesmo ano, houve uma revolta liberal no Porto, mas foi imediatamente abafada; depois, sucederam-se as lutas entre os dois partidos, as agressões, as zangas por questões políticas que separaram muitos amigos e familiares. Portugal estava em risco de guerra civil, ou seja, uma guerra entre cidadãos do mesmo país.

Em 1831, D. Pedro abdicou do trono do Brasil em favor de seu filho, D. Pedro II, e decidiu regressar a Portugal e impor a legalidade. D. Pedro assumiu-se, em 1832, como Regente, em nome de sua filha D. Maria da Glória e, na ilha Terceira, nos Açores, formou um governo liberal.

No dia 8 de Julho de 1832, D. Pedro desembarcou com o seu exército na praia de Pampelido, no Mindelo, perto do Porto, para combater os absolutistas, iniciando-se a Guerra Civil.

As tropas liberais dirigiram-se, então, para o Porto; as populações das localidades por onde passavam aplaudiam o exército, rendendo- -se às cores da monarquia liberal: o azul e o branco.

  

 

O fim da Guerra Civil

Os absolutistas cercaram o Porto e o exército liberal; no entanto, a maioria do exército liberal conseguiu embarcar e rumar até ao Algarve. A partir do Algarve, os liberais, comandados pelo Duque da Terceira, tomaram o rumo de Lisboa, conquistando a cidade.

O «exército libertador», nome dado às tropas de D. Pedro, tinha tomado a capital do reino. A partir dessa altura, as tropas miguelistas sofreram várias derrotas e D. Miguel foi obrigado a considerar-se vencido.

Depois de ter assinado a Convenção de Évora Monte, em 1834, D. Miguel partiu para o exílio, para nunca mais voltar, morrendo na Alemanha, em 1866.

A Guerra Civil tinha terminado, com a vitória das forças liberais. D. Pedro pouco mais tempo viveu, e a sua filha, D. Maria II, subiu ao trono a 20 de Setembro de 1834, tendo sido rainha de Portugal até à sua morte, em 1853.